quarta-feira, junho 21, 2006

Sítio escuro na madrugada negra.

Não se pode viver sem pensar e não se pode pensar sem palavras. Palavras constroiem um mundo à nossa maneira. Não se possui ninguém num mundo seu, mesmo os que pecam em tentar não o conseguem. A única forma de posse verdadeira de um ser, é recria-lo através da arte, e não prendê-lo. Devia prendê-lo, mas sinto o chão a fugir-me dos pés e os anéis a escorregarem dos dedos. Sinto no corpo o prenúncio de mais uma depressão a aproximar-se. Estou a pensar expulsar este ponto negro e com ele a dor que me causa. Uma dor que doi, doi mais do que se possa sequer imaginar, quando não sou capaz de sentir a dor que tanto me faz sofrer. Recordar sempre que estar vivo, exige um esforço! Um esforço muito maior que o simples facto de respirar. Morrer lentamente; numa noite perdida e apreendida por uma melancolia silenciosa que se irá perder no tempo. Um sentimento que não se oprime de ser exprimido.

-----"-----

Morre lentamente...
Quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajectos.
Ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente...
Quem não lê, quem não viaja,
Quem não encontra graça em si mesmo.
Quem destrói seu amor próprio.

Morre lentamente...
Quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente...
Quem evita uma paixão,
Quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is",
Em detrimento de um redemoinho de emoções
Justamente as que resgatam o brilho dos olhos,

Sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente...
Quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho.

(Morre Lentamente - Pablo Neruda)

Sem comentários: